Sex, 28 de novembro de 2025, 10:47

'Parafusos de Sergipe' vence prêmio internacional pelo voto do público e celebra a memória negra de Lagarto
Curta stop-motion criado por aluna do DMU/UFS e com colaboração do seu pai de 87 anos, emociona ao destacar grupo tradicional de Lagarto
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O curta de animação Parafusos de Sergipe, criação da estudante Shéron Joyce Díaz Morales, do Departamento de Música (DMU/UFS), conquistou o prêmio de Melhor Filme de Animação – Voto do Público no 8º Festival e Mostra de Audiovisual do NUPEPA/ImaRgens – parceria entre a Universidade de São Paulo e a Universidade Nova de Lisboa. A premiação ocorreu em 18 de novembro, em pleno Mês da Consciência Negra, ampliando o impacto simbólico da obra.

Realizado em stop-motion a partir de uma oficina, o filme homenageia o Grupo Folclórico Parafusos de Lagarto, uma das manifestações mais singulares da cultura negra sergipana. A obra nasceu de um gesto íntimo e coletivo: a diretora contou com a colaboração especial de seu pai, Genaro Morales, de 87 anos. “Quis contar uma história que fosse maior do que eu. Cresci vendo minha mãe levar estudantes para conhecer nossa cultura e, meu pai, com toda sua vivência e sabedoria, me ajudou a enxergar a arte como ponte entre mundos. Os Parafusos carregam essa força de memória viva, e eu queria que o curta fosse um abraço nessa história”, conta Shéron.


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Além de destacar o grupo centenário, o curta apresenta a potência do cinema de animação como linguagem que preserva e reinventa tradições. Para Samir Mourad, professor responsável pela oficina que originou o filme, a escolha por trabalhar com cultura popular trouxe ainda mais força ao processo criativo. “O stop-motion tem a marca da mão humana em cada detalhe. Quando essa técnica encontra narrativas de memória e resistência, como a dos Parafusos, ela se transforma em poesia. A Shéron conseguiu equilibrar técnica e emoção. Ela deu vida a objetos simples e os transformou em personagens cheios de identidade”, afirma.

A obra tocou o público do festival, que reúne olhares do Brasil, de Portugal e da América Latina. Para Ana Carolina Trevisan, da coordenação do NUPEPA/ImaRgens, a sensibilidade do curta foi decisiva para a vitória. “O público se encantou com a simplicidade emocionante do filme. A técnica artesanal, a música e a forma afetuosa de representar a cultura negra sergipana criaram uma identificação imediata. Muitas pessoas disseram que se viram ali: na memória, na resistência e no orgulho de suas próprias histórias”, destaca.


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Arte como memória viva

Para Shéron, transformar o Grupo Parafusos em animação foi também um ato político, pedagógico e afetivo: “No Mês da Consciência Negra, dar visibilidade a um grupo tradicional negro de Sergipe é reafirmar que nossas histórias importam. O cinema permite registrar o que a memória não pode perder”, afirma.

A experiência dialoga diretamente com sua formação no DMU/UFS. “A arte é instrumento de reflexão, crítica e liberdade. O curso de Música me dá essa base: história, cultura, criação e responsabilidade social. O curta é resultado direto dessa formação interdisciplinar”, destaca.

Colaboração intergeracional

A participação de seu pai foi essencial para a materialização do curta. “Ele olhou para os bonequinhos e disse: ‘tem como melhorar’. E teve mesmo. Meu pai, com 85 anos na época, redesenhou articulações, sugeriu vestimentas, deu forma e alma aos personagens. Criamos juntos. Ele me lembrou que a arte não tem idade e que criar é, sempre, um ato de amor”, conta.

O prêmio pelo voto do público reforça o alcance do curta e o papel da universidade na produção cultural. “Quando uma narrativa nasce de um lugar verdadeiro, ela atravessa fronteiras. A vitória mostra que obras com identidade regional podem dialogar com o mundo”, avalia Samir.

O curta também integrou outros eventos importantes, como o FINC (RN), a Mostra MICA (RJ) e a Virada Cinematográfica de Ouro Preto (MG).

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Ascom UFS


Atualizado em: Sex, 28 de novembro de 2025, 17:08
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